A Síndrome de Burnout é um mal cada vez mais comum, mas muitos não sabem o que é. Os que tem alguma ideia acham que não são potenciais vítimas desta síndrome que pode, inclusive, te incapacitar para o trabalho.
Você se dedica muito ao trabalho e nem pensa em tirar férias ou, quando tira, não vê a hora de voltar? Se orgulha ao dizer que trabalha também em casa e nos fins de semana? Sai cedo de casa e volta tarde, faz horas extras com frequência? Já disse “meu nome é trabalho” ou algo assim? Saiba que você pode estar a caminho de desenvolver esta doença terrível!
Você precisa saber como evitá-la e o que fazer caso já esteja sofrendo com ela. Leia este artigo até o fim e entenderá um pouco mais sobre esta doença que pode ser um dos seus piores inimigos.
Escrevi este artigo para você que está entre os profissionais suscetíveis a sofrer deste problema ou para você que conhece alguém assim. Afinal, o assunto é bem sério e você precisa conhecê-lo bem! A síndrome de burnout, ou síndrome do esgotamento profissional, pode estar mais perto do que você imagina. E o mais grave: muitas vezes a vítima só percebe depois que já está em estágio avançado.
Ao chegar no fim deste artigo você saberá mais sobre esta síndrome, como identificá-la e evitá-la. Se você for o líder de uma equipe, poderá ajudar os seus liderados a evitarem as situações de risco. Não só pela consequente diminuição da produtividade, obviamente, mas principalmente pelo bem-estar dos seus colaboradores.
Descobrindo a Síndrome de Burnout
Eu estava pesquisando sobre depressão quando cheguei pela primeira vez em um artigo sobre a síndrome de burnout. Já tinha ouvido algumas coisas sobre este assunto, mas não sabia qual era o nome deste mal e nem sabia exatamente o que era. Na verdade eu nem imaginava que isso tinha um nome. Afinal, é comum ouvir as pessoas contarem que fulano teve um problema causado pelo grande estresse no trabalho. O que eu não sabia é que estas pessoas não passaram apenas por muito estresse, elas tiveram algo muito pior.
Somente em 2016, lendo o artigo que mencionei, que descobri a síndrome do esgotamento profissional e entendi o que tinha acontecido com aquelas pessoas. No entanto o artigo explicava superficialmente, como a maioria dos artigos da internet. Com a curiosidade despertada, comecei a pesquisar para saber mais e mais sobre este problema que pode vitimar qualquer profissional.
Depois de ler muito sobre isto, chegou uma hora que me dei conta que não bastava eu saber. Eu precisava passar adiante o pouco que descobri. Poderia ajudar muitas pessoas a se prevenirem contra este mal. Foi quando decidi escrever este artigo que você está lendo agora. Leia para saber se você não pode ser uma das vítimas!
Mas afinal, a Síndrome de Burnout é uma Doença?
Este tópico é relevante porque há algumas controvérsias a respeito. Mas prometo ser breve para não fugir muito do assunto principal e também para não correr o risco de chateá-lo com informações que talvez não te interessem muito. Mas acredite, é importante saber!
Diz a advogada Carla Pontes, especialista em Direito Civil, em seu artigo “Síndrome de Burnout: uma doença relacionada ao trabalho“: “Sim. Ela está inserida no capítulo XXI da categoria que se refere aos problemas relacionados com a organização de seu modo de vida (Z73), descrita na Classificação Internacional de Doenças (CID10), versão 2010, pelo código Z73.0 Burn-out (estado de exaustão vital)”. Para saber mais leia o artigo completo no portal JusBrasil ou leia o original no site da advogada.
Alguns afirmam que a Síndrome do Esgotamento Profissional não é uma doença, talvez por desconhecimento destas leis. Porém a síndrome consta na lista de doenças relacionadas ao trabalho do Ministério da Saúde como Sensação de Estar Acabado (“Síndrome de Burn-Out”, “Síndrome do Esgotamento Profissional“) (Z73.0). Você pode encontrar esta lista no site do Ministério da Saúde.
Breve Histórico da Síndrome de Burnout
A Síndrome de Burnout, também chamada de estafa profissional, que muitas vezes é confundida com a depressão, é um transtorno psiquiátrico muito mais comum do que imaginamos. O termo burnout, traduzindo do inglês, é algo como queima total algo que foi totalmente consumido pelo fogo. Para um melhor entendimento da ideia, imagine ma lâmpada queimada ou um palito de fósforo usado. Já foram úteis, mas agora não servem para mais nada, tornaram-se inúteis (pelo menos para o fim para o qual foram feitos).
A síndrome foi descrita pela primeira vez em 1974 pelo psicólogo Herbert Freudenberger. Foi somente nos anos 80 que a pesquisadora americana Christina Maslach batizou-a com este nome. Esta pesquisadora foi quem definiu o burnout como uma doença profissional.
A síndrome só se tornou popular nos anos 90, nos Estados Unidos. No Brasil muita gente não a conhece, apesar de cerca de 30% dos profissionais sofrerem com a Síndrome do Esgotamento Profissional, segundo pesquisa realizada pela International Stress Management Associatio’n no Brasil (ISMA-BR). Pouco se ouve falar fora das publicações especializadas. Campanhas de conscientização e prevenção poderiam diminuir bastante estes números, mas não é comum elas acontecerem. O que podemos fazer então é divulgar esta doença profissional para os amigos e conhecidos. Quem sabe assim consigamos evitar que a Síndrome de do esgotamento profissional continue fazendo tantas vítimas.
Principais Sintomas da Síndrome de Burnout
A grande dificuldade em diagnosticar a síndrome do esgotamento profissional está na longa lista de sintomas que podem ser desencadeados. Já foram descritos mais de 130 sintomas diferentes. Como cada indivíduo reage de uma forma distinta dos demais, os sintomas variam de uma pessoa para outra. Porém podemos citar os mais comuns, conheça-os:
- Cinismo
- Sentimento de desesperança ou de desânimo
- Isolamento
- Sentimento de traição por parte da empresa, dos colegas ou do chefe
- Negligência das necessidades pessoais (não dormir ou não comer, por exemplo)
- Cansaço excessivo (sente-se muito cansado mesmo nas primeiras horas do dia)
- Dificuldade em realizar tarefas que anteriormente executava sem problema algum
- Incapacidade de concentração
- Falta de memória
- Insônia
- Agitação
- Aumento do consumo de cigarros ou álcool
- Comportamento anti-social – não quer estar com ninguém (nem família ou amigos), pois acredita que ninguém o entende
- Reações agressivas ou exageradas
- Sintomas físicos frequentes (enxaquecas, problemas digestivos, um resfriado que não passa, tonturas, tremores, fortes dores de cabeça, muita falta de ar)
Se você identificou que tem alguns destes sintomas, fique alerta!
As 12 Fases da Síndrome de Burnout
Você fica até tarde no trabalho com frequência? Quando chega em casa não desliga do serviço? Você pode estar trilhando o caminho que culminará na estafa profissional. Preste atenção às fases da síndrome do esgotamento profissional e, caso perceba que já está em uma delas, faça algo urgentemente. Mude seu comportamento antes que seja tarde e procure ajuda médica e psicológica. Leia cada uma com atenção!
1. Necessidade de se afirmar (ou querer mostrar que é capaz)
Querer provar aos colegas e ao chefe que você pode fazer tudo e melhor. Normalmente são os ambiciosos e perfeccionistas que tem esta característica (são eles os mais sujeitos à doença).
2. Intensificação da dedicação (“meu nome é trabalho!”)
Esta é uma consequência da fase anterior. A pessoa quer fazer tudo sozinha e a qualquer hora. Ela acha que tudo tem que ser feito o quanto antes (imediatismo). O ofício é levado ao extremo e torná-se sua principal atividade. Ela acredita que assim será insubstituível.
3. Negligência das necessidades pessoais
Como dedica-se muito ao trabalho, acaba deixando de lado as necessidades pessoais como sono e alimentação. Então sair com amigos, passar tempo com a família ou fazer atividades de lazer ficam em segundo plano. Para a pessoa, o trabalho é mais importante que tudo.
4. Recalque dos conflitos
Acontece quando percebe que algo não está indo bem, mas não sabe ou ignora a origem disso. A pessoa evita falar sobre o assunto e não tenta enfrentar o problema. Nesta fase começam a ocorrer as manifestações físicas (fortes dores de cabeça e problemas digestivos, por exemplo).
5. Mudança de valores
Ocorre o isolamento do trabalhador, que ignora todo o resto que não seja seu serviço (família, amigos, casa, lazer). Ele evita conflitos. Neste ponto, sua única fonte de auto-estima é o trabalho, que passa a ser a sua única medida a auto-estima.
6. Negação de problemas e intolerância
O indivíduo considera que todos os outros são incapazes e desvaloriza-os completamente. Ele acredita que o seu excesso de trabalho é a causa dos problemas quando, muitas vezes, ele é quem os cria. Acaba por torna-se intolerante e coloca sempre a culpa de tudo nos outros. Quando chega nesta fase os sinais mais evidentes são a agressão e o cinismo.
7. Recolhimento e anti-socialização
Evita o contato social e isola-se. Passa a ter aversão a reuniões. Muitas vezes, nesta fase estão sem um norte, desesperançados e podem buscar alívio no álcool e nas drogas.
8. Mudanças evidentes de comportamento
Familiares, amigos e colegas percebem a evidente mudança de comportamento. Manter uma boa relação torna-se difícil pela falta de humor e dificuldade em aceitar brincadeiras.
9. Despersonalização
A pessoa se negligencia tanto a ponto de transformar o trabalho na coisa mais importante de sua vida. Ela perde a noção de si, tornando-se uma máquina que executa sua função, um verdadeiro robô. Ela evita diálogos, preferindo comunicar-se por e-mail, Whatsapp ou outros meios como estes, onde o contato pessoal não existe.
10. Vazio interior
O indivíduo sente uma sensação de vazio interior e de que tudo é desgastante, difícil e complicado. É comum, nesta fase, buscar atividades que tornam-se compulsivas, como sexo, comida, drogas ou jogos.
11. Depressão
Quando a pessoa chega nesta fase, a vida perde o sentido. Alguns sintomas da depressão já se manifestam, como a exaustão, negligência em relação ao futuro, indiferença e falta de esperança. Este é um ponto de atenção! Aqui a ajuda já se faz mais que urgente!
12. Esgotamento final
Esta fase é a síndrome do esgotamento profissional (a síndrome de burnout), propriamente dita. A pessoa entra em colapso tanto físico como emocional que podem levá-la a episódios de violência e até ao suicídio. A fase final é o ápice de um longo processo. Ao chegar neste ponto é urgente a busca de ajuda médica e psicológica! É de suma importância observar que este é o ápice do problema, que pode ser evitado se diagnosticado a tempo.
Principais Causas
Diversas são as causas que podem levar ao esgotamento profissional. Podemos dizer que as situações mais comuns são aquelas em que o profissional é exposto a práticas como longas jornadas de trabalho, excesso de cobrança ou falta de reconhecimento. Citarei as mais comuns para você descobrir se não acontece com você:
- Carga excessiva de trabalho, jornadas de trabalho muito longas
- Trabalhar em uma organização ou equipe desestruturada ou desorganizada
- Não ter apoio do superior hierárquico ou da organização
- Trabalhos repetitivos e sem incentivos
- Objetivos pouco claros por parte da organização ou do chefe
- Pouco ou nenhum reconhecimento pelo seu trabalho
- Alto nível de responsabilidade
- Trabalho onde existe o contato direto com o cliente ou usuário
- Assédio moral
- Exigência exagerada na cobrança de metas e produtividade
- Falta de recursos pessoais ou materiais para atender as demandas
- Ambiente de trabalho pouco amistoso, com conflitos entre colegas
Profissões de Maior Risco
Alguns profissionais estão mais sujeitos a desenvolver a síndrome do esgotamento profissional. No entanto isto não quer dizer que a doença é uma exclusividade deles, todos podem sofrer com o esgotamento profissional. Geralmente as profissões com mais pessoas que desenvolvem esta doença são aquelas em que há contato direto com o público. O esgotamento profissional em professores da rede pública, por exemplo, é muito comum. Entre as profissões com mais vítimas podemos destacar as seguintes:
- Professores
- Profissionais da saúde
- Jornalistas
- Advogados
- Agentes Penitenciários
- Bombeiros
- Profissionais de TI
- Policiais
- Advogados
Além destes exemplos, outro grupo que é forte candidato a desenvolver esta síndrome: são os worklovers ou workaholics – ou “trabalhadores compulsivos”.
Como prevenir-se
Com certeza você não quer deixar que o trabalho acabe com a sua saúde. Mas o que fazer para não deixar que sua profissão leve a sua saúde a um estado tão crítico? O que fazer para prevenir a estafa profissional?
Se sua profissão é uma das que estão no grupo de maior risco (ou se você é um workaholic) deve ter mais cuidado ainda. Porém, mesmo não se enquadrando nestes casos, é sempre bom tomar algumas medidas para ter uma vida mais saudável e evitar esta doença profissional, além de diversas outras. Entre várias formas de prevenção que podem ser indicadas, podemos citar algumas:
- Atividades físicas – sem dúvida alguma os exercícios físicos são uma das melhores formas de se preservar a saúde, tanto física como mental. A prática de Pilates ou de caminhada, como exemplo, ajudam a aliviar o estresse acumulado. Exercícios de respiração e relaxamento também são recomendados.
- Atividades de lazer – Importantíssimo para tirar o foco do trabalho. Reservar um tempo para este tipo de atividade que gera prazer ajuda a desocupar um pouco a nossa mente.
- Reorganizar o trabalho e respeitar horários – Este é um ponto relevante. Você deve reorganizar sua agenda de forma que não trabalhe em excesso nem coloque o trabalho acima da sua saúde, família e amigos. Tudo deve ter seu espaço. Os horários de trabalho devem ser respeitados, assim como os horários de refeição, de lazer, de descanso, de convívio com a família e amigos. É preciso espairecer. Desta forma o trabalho vai render mais, mas sem desgastar a sua saúde. E, sempre é bom lembrar: não deve levar trabalho para casa!
- Atividades relaxantes, como dançar, ir ao cinema ou sair com os amigos, por exemplo, ajudam muito;
- Reforçar os vínculos sociais – a convivência com amigos vai ajudá-lo a se distrair do trabalho. Além disso, os amigos se tornam um tipo de apoio nestas situações.
Caso você já esteja apresentando sinais da síndrome de esgotamento profissional, além destas atividades deve buscar ajuda profissional (um médico e/ou psicólogo). Não acredite que pode sair sozinho desta e quanto mais demorar para buscar um apoio, pior será. Não perca tempo!
Tratamento
O tratamento consiste geralmente no uso de antidepressivos e psicoterapia. O médico lhe indicará o medicamento mais apropriado para o seu caso, dado que cada pessoa reage de uma forma aos medicamentos. A psicoterapia servirá como um apoio fundamental, além de ajudá-lo, entre outras coisas, a mudar os padrões inadequados de comportamento, diminuir a ansiedade, restabelecer o equilíbrio e reduzir alguns sintomas.
Por ser tratar de uma doença profissional, em alguns casos pode ser recomendado o afastamento do trabalho, mesmo que temporariamente.
Algumas vezes o paciente não está em condições de perceber a sua condição e nem de reagir por conta própria. Portanto, ao menor sinal de que possa estar desenvolvendo a síndrome, deve ser pedida a ajuda de um familiar, amigo ou pessoa de confiança. E se você conhece alguém que está caindo neste buraco, tente ajudá-lo o mais breve possível. A busca de um profissional da saúde jamais deve ser descartada, somente ele saberá qual a melhor abordagem para o caso.
Considerações finais
A Doutora Alyne Mendonça, neurologista em Vila Velha, ES, faz o alerta: “a Síndrome de Burnout deve ser levada a sério em todo processo de diagnóstico e todo trabalhador com sintomas de exaustão física e mental deve ser considerado para o tratamento farmacológico e psicológico. Hoje, estudos definem índices de tentativas de suicídio que atingem as cifras assustadoras de 20-30 porcento dentre aqueles profissionais em cargos de risco”.
Devemos ficar muito atentos aos sinais e sintomas desta doença profissional para tratar o quanto antes, caso percebamos que ela está se manifestando. A falta de diagnóstico e tratamento pode levar a resultados desastrosos, incluindo o suicídio. Por este motivo procure um médico ou psicólogo assim que desconfiar que algo está errado. Aliás, somente eles poderão diagnosticar corretamente.
Um ponto importante a se falar: muitas vezes a pessoa que está desenvolvendo esta doença profissional não é levada a sério. Os outros acham que está que ela está com problemas pessoais que afetam o trabalho, quando o que ocorre é justamente o inverso. Isto só ajuda a piorar o quadro. Portanto, cuidado ao fazer “diagnósticos” quando não conhece o caso. Se você não é um profissional da saúde e não conhece a situação por inteiro, não tire conclusões. Ao invés de criticar, procure ajudar.
Lembre-se: esta síndrome não escolhe suas vítimas. Apesar de ter seus alvos preferenciais, qualquer pessoa está sujeita a sofrer deste mal, independente de sexo, idade ou profissão.
Este artigo foi escrito com a intenção de informar e ajudar quem já desenvolveu a síndrome do esgotamento profissional ou está seguindo por este caminho. Gostou dele? Compartilhe com seus amigos, talvez ele possa ser útil para alguém que você nem imagina!